quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Fim da Viagem.

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(Último trecho citado.) .
Mas agora Ketut estava falando do céu e do inferno de uma forma diferente, como se fossem lugares reais no universo que ele, de fato, visitou. Pelo menos, acho que foi isso que ele quis dizer. Para tentar entender melhor, perguntei:
- Você já foi ao inferno, Ketut?
Ele sorriu. É claro que já tinha ido lá.
- Como é a vida no inferno?
- Igual a no céu - disse ele.
Ao ver minha expressão de confusão, ele tentou explicar.
- Universo é um círculo, Liss.
Eu ainda não tinha certeza de ter entendido.
- Para o cima, para o baixo... tudo a mesma coisa, no final - disse ele.
Lembrei-me de uma antiga ideia mística cristã: Assim na terra como no céu.
- Então como é possível saber a diferença entre o céu e inferno? - perguntei.
- Por causa de como você vai. Céu, você vai para cima, passa por sete lugares felizes. Inferno você vai para baixo, passa por sete lugares tristes. É por isso que é melhor você ir pra cima, Liss. - Ele riu.
- Você quer dizer que - perguntei - que é melhor passar a vida indo para cima, passando pelos lugares felizes, já que o céu e o inferno... os destinos... no final das contas são a mesma coisa?
- Mesmo-mesmo - disse ele. - O mesmo no final, então melhor ser feliz na viagem.
- Então, se o céu é amor - falei -, então o inferno é...
- Amor, também - disse ele.
Fiquei sentada pensando nisso durante algum tempo, tentando fazer a conta fechar.
Ketut tornou a rir e deu um tapinha afetuoso no meu joelho.
- Sempre tão difícil para pessoa jovem entender isso!

[Comer Rezar Amar - E. Gilbert - Indonésia (88, pg. 270)]

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

"Até de roupa de baixo eu me sinto diferente."

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Ketut prosseguiu explicando que os balineses acreditam que cada um de nós, quando nasce, vem acompanhado de quatro irmãos invisíveis, que vêm ao mundo conosco e que nos protegem durante a vida. (...) Os irmãos encarnam as quatro virtudes de que uma pessoa necessita para ter segurança e felicidade na vida: inteligência, amizade, força e (adoro esta) poesia. Os irmãos podem ser chamados em qualquer situação crítica para resgatar e ajudar. Quando você morre, seus quatro irmãos espirituais recolhem sua alma e levam você para o céu.

[Comer Amar Rezar - Indonésia]

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Quem é do meio cuida do meio do lado.

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Os últimos serão os primeiros.
Os primeiros serão os últimos.
Mas, e os do meio?
Não há o peso de serem os Primeiros ou os Últimos.
Eles são livres.
Possuem visão ampla e amigos.
Quem é do meio cuida do meio do lado.
Só quem passa pelo meio torna-se um primeiro completo.

sábado, 11 de dezembro de 2010

[ALICErce]

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Só sei que ela é bem do me tamanho.
Ou quem sabe, talvez, seja eu o tamanho dela.
Ou os dois.
É amor.
É claro que é amor.
Daqueles que mantêm a alma limpa.
Os olhos abertos.
E os quadros na parede.
Porque quando se olha pro teto e não se tem céu.
Ou quando se olha pra baixo e não se tem chão.
É preciso ter quadros na parede.
É essencial tê-los.
E tê-la.
ALICErce.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Dona Bendita Inspiração

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É engraçado entrar todo santo dia e reler alguma coisa antiga com a desculpa que não há nada novo entrando pela porta. Ou que na correria do dia a dia é melhor reler um livro antigo do que se aventurar em um novo e excitante. Só sei que me visito dia e noite, mas insisto em só me permitir sentar quando houver a presença da Dona Bendita Inspiração. Ou quando tiver algo que valha a pena falar e fazer virar poesia. Mas, pra falar a verdade, tô querendo simplesmente sentar, tomar um café e conversar mesmo sem motivo, só pelo simples prazer de me encontrar de vez em quando e escutar com calma meus silêncios. Caso a Dona chegue, ouvirei os dela também. Então, que venham as conversas. Tô ansiosa. Tô morrendo de saudade.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Sabe-se.

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(...)
Só deu uma mordida e depositou a maçã na mesa. Porque alguma coisa desconhecida estava suavemente acontecendo. Era o começo - de um estado de graça.

Só quem já tivesse estado em graça poderia reconhecer o que ela sentia. Não se tratava de uma inspiração, que era uma graça especial que tantas vezes acontecia aos que lidavam com arte.

O estado de graça em que estava não era usado para nada. Era como se viesse apenas para que se soubesse que realmente se existia. Nesse estado, além da tranquila felicidade de pessoas lembradas e de coisas, havia uma lucidez que Lóri só chamava de leve porque na graça tudo era tão, tão leve. Era uma lucidez de quem não adivinha mais: sem esforço, sabe. Apenas isto: sabe. Que não lhe perguntassem o que, pois só poderia responder do mesmo modo infantil: sem esforço, sabe-se.

Também era bom que não viesse tantas vezes quantas queria: porque ela poderia se habituar à felicidade. Sim, porque em estado de graça se era muito feliz. E habituar-se à felicidade seria um perigo social.

[Clarice Lispector - Uma Aprendizagem Ou O Livro Dos Prazeres]

domingo, 14 de novembro de 2010

Um exemplo de Dom.

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Dons.
É inquestionável que as pessoas possuem dons.
Ainda não pensei sobre adquirir dons.
Só sobre nascer com eles.
Ser eles sem esforços.
A arte de escrever e descrever sentimentos é um dom Grande.
Bem grande, pra mim.
Me fascina.
Me emociona e me cativa de uma maneira bonita.
É bonito fazer o outro ser tocado pelas palavras.
As palavras podem gritar por lembranças ou pelo futuro que se deseja.
É bonito fazer o outro querer ser ou sentir algo que lê.
Que talvez não seja.
Que talvez não sinta, mas quer.
Esses são os Dons.
Os Dons.
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Antes de qualquer coisa não pense que isso é um mérito seu, não te esquecer foi minha escolha. Honro minhas lembranças, não desprezo o tempo que dediquei para alguém, não ignoro os poemas que li, não esqueço os sonhos que tive. Na verdade, não tem nada a ver com você, tem a ver com nós. Eu e você separados somos planos diferentes.

Se isso te faz feliz, não irei te esquecer. Não irei jogar pela janela os minutos que construi olhando para você, nem vou apagar tua voz abafada debaixo das cobertas das madrugadas, não vou trocar a cor da sala que escolhemos, não vou mudar os móveis de lugar para tentar acabar com o espaço que sobrou na sua ausência.

Quando penso em você quase nada abala. Dói mais quando penso em nós. E quando penso em nós ainda te amo, por isso não vou trocar teu nome seguido de amor no telefone, pois ainda me incomoda a possibilidade de que encontre alguém melhor, porque ainda me desconcerta a idéia que você possa se abrir para outra pessoa. Mantenho seu nome entre meus favoritos, ainda seu sobrenome assina com o meu no final.

Você parou para pensar que tínhamos quase tudo para sermos felizes? Mas quase ainda era muita coisa na nossa história. O quase incluía o descuido, a pressa, os outros compromissos menos necessários, nunca lembramos da velha frase de que o urgente não é o mais importante. A culpa não foi minha, não foi sua. A culpa foi nossa, veio depois, veio quando não entendemos que estavámos juntos não para dividir, mas para somar.

A felicidade brilha, resplandece no vocabulário. Tem lugar garantido no dicionário, nos sonhos, nos projetos de vida. Sempre pensamos na felicidade como um dia, e não no dia em que nos encontramos e a paixão nos dilacerou. A gente esquece do valor das coisas. Mas eu não vou te esquecer, uma conquista deve ser guardada, pode ser uma pessoa inteira, pode ser um minuto em que os olhos se cruzaram. Cada um sabe o que é valioso para si.

O que conquistei de você me pertence.


[Cáh Morandi] - via www.umolharparasentir.blogspot.com

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Trocando Delicadezas.

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É fácil morrer. A toda hora, em todos os lugares, a morte está se oferecendo. Mais difícil é continuar vivendo. Eu continuo. Não sei se gosto, mas tenho uma curiosidade imensa pelo que vai me acontecer, pelas pessoas que vou conhecer, por tudo que vou dizer e fazer e ainda não sei o que será. (…) Mas gosto, gosto das pessoas. Não sei me comunicar com elas, mas gosto de vê-las, de estar a seu lado, saber suas tristezas, suas esperas, suas vidas.

[Caio Fernando Abreu]

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

e delicadezas

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Tenho sentido que inúmeras vezes nasci e renasci. É como se todos os dias alguém que até ontem era estranho pra mim, hoje fizesse todo sentido e tomasse o meu lugar. A vida é um quebra cabeça, mas nem todas as peças se encaixam no momento em que surgem, por isso, algumas nos são entregues pelas mãos do tempo. Preencher nossos espaços vazios não é o suficiente, cada lacuna ocupada em nós deve fazer sentido. É bom ser refeito e entender estas mudanças. Nossa largueza é infinita e somos moldados diariamente por nossas tristezas, alegrias, frustrações e delicadezas. Somos de barro e são nossas vivências que nos dão a forma exata.

[Fernanda Gaona] - via www.deliriosesuspiros.blogspot.com

domingo, 7 de novembro de 2010

"Achei Deus de uma grande delicadeza."

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(...) Mas tenho um milagre, sim. O milagre das folhas. Estou andando pela rua e do vento me cai uma folha exatamente nos cabelos. A incidência da linha de milhões de folhas transformadas em uma única, e de milhões de pessoas a incidência de reduzi-las a mim. Isso me acontece tantas vezes que passei a me considerar modestamente a escolhida das folhas. Com gestos furtivos, tiro a folha dos cabelos e guardo-a na bolsa, como o mais diminuto diamante. Até que um dia, abrindo a bolsa, encontro entre os objetos a folha seca, engelhada, morta. Jogo-a fora: não me interessa fetiche morto como lembrança. E também porque sei que novas folhas coincidirão comigo. Um dia uma folha me bateu nos cílios. Achei Deus de uma grande delicadeza.

[O Milagre das Folhas - Clarice Lispector]

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Sobre Detalhes.

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Ah, como são Adoráveis.
E irritantes.
Os Detalhes.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Céu.

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Será que eu já posso acordar?
Ter esse mesmo delírio todos os dias.
Cansa; sabia?
O cansaço tá gigantesco.
E tão próximo.
Sinto o peso dele em mim.
Mas dormindo não se pode fazer nada.
Quero espantá-lo.
Mandar embora esses devaneios.
Mas, Como?
Preciso abrir os olhos.
Parar de sonhar besteiras.
De criar realidades irreais.
É besteira, né?
Não me olhe assim, é irreal; não é?
(...)
Esqueci.
De olhos fechados não vejo você.
Durmindo não escuto suas respostas.
Acredito no que eu sinto, então.
São besteiras.
Não é a realidade.
Ufa.
Um dia eu abro os olhos.
E tudo isso vai passar.
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Sempre, pra você: "Toda a minha saudade, e o meu amor de sempre."

terça-feira, 26 de outubro de 2010

(Resposta:)

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A petulância dela de se aventurar como poeta sempre tem a mesma causa.
As palavras dela sempre são pessoais demais.
Dramáticas demais.
Ela demais.
No fundo elas tem sempre a mesma forma.
A forma dela.
Os olhos dela.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Mágramática

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Todo sujeito é livre para conjugar o verbo que quiser
Todo verbo é livre para ser direto ou indireto
Nenhum predicado será prejudicado
Nem tampouco a frase, nem a crase
Nem a vírgula e ponto final
Afinal, a má gramática da vida
Nos põe entre pausas
Entre vírgulas
E estar entre vírgulas
Pode ser aposto
E eu aposto o oposto
Que vou cativar a todos
Sendo apenas um sujeito simples
Um sujeito e sua visão
Sua pressa e sua prece
Que enxerguemos o fato
De termos acessórios para a nossa oração
Adjuntos ou separados
Nominais ou não
Façamos parte do contexto
Sejamos todas as capas de edição especial
Mas, porém, contudo, todavia
Sejamos também a contracapa
Porque ser a capa e ser contracapa
É a beleza da contradição
É negar a si mesmo
E negar-se a si mesmo
É muitas vezes encontrar-se com Deus
Com o teu Deus
Senhoras e Senhores
Que nesse momento em que cada um se encontra agora
Um possa se encontrar ao outro
E o outro no um
Até por que
Tem horas que a gente se pergunta...
Porque é que não se junta tudo numa coisa só?

[O Teatro Mágico - Composição: Fernando Anitelli]

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

28

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"Na primavera anterior, David havia proposto a seguinte louca solução para os nossos problema, só meio brincando:
- E se a gente simplesmente reconhecesse que nosso relacionamento é ruim, e mesmo assim ficasse junto? Se admitisse que a gente enlouquece um ao outro, que está sempre brigando e quase nunca transa, mas não consegue viver um sem o outro, por isso aguenta tudo? Dai a gente poderia passar o resto da vida inteira junto... infelizes, mas felizes por não estarmos separados.
Que o fato de eu ter passado os últimos dez meses considerando seriamente essa proposta seja um testemunho de como eu amo desesperadamente esse cara.
A outra alternativa que ainda não havíamos descartado, é claro, é que um de nós pudesse mudar. Ele poderia se tornar mais aberto e mais afetuoso, sem se afastar de qualquer pessoa que o amasse por medo que ela fosse lhe devorar a alma. Ou eu poderia aprender a... parar de devorar a alma dele.
(...)
Então eu escrevo um e-mail pra ele.
Eu lhe digo que espero que ele esteja bem e que estou bem. Faço algumas brincadeiras. Sempre fomos bons de brincadeiras. Em seguida, explico que acho que precisamos pôr um ponto final nesse relacionameto. Que talvez seja hora de reconhecer que nunca vai dar certo, que não é pra dar certo. O tom não é excessivamente dramático. Deus sabe que já houve drama suficiente entre nós. A mensagem é curta e simples. Mas há mais coisa que preciso acrescentar. Prendendo a respiração, escrevo: "Se você quiser procurar outra pessoa na sua vida, é claro que eu lhe desejo tudo de bom." Minhas mãos estão tremendo. Assino com "um beijo", tentando manter o tom mais descontraído possível.
Tenho a sensação de que alguém acaba de golpear meu peito com um bastão.
Não durmo muito essa noite, imaginando-o a ler minhas palavras. Durante o dia seguinte corro algumas vezes até o cybercafé à procura de uma resposta. Estou tentando ignorar aquela parte de mim morta de vontade de que ele responda: "VOLTE! NÃO VÁ EMBORA! EU VOU MUDAR!" Estou tentando ignorar a menininha dentro de mim que abriria mão alegremente de toda essa ideia grandiosa de viajar pelo mundo em troca apenas das chaves do apartamento de David. Mas, por volta das dez horas da noite, finalmente recebo minha resposta. Um e-mail maravilhoso, é claro. David sempre escreveu lindamente. Ele concorda que, sim, é hora de finalmente dizermos adeus para sempre. Diz que ele próprio vem pensando mais ou menos a mesma coisa. Não poderia ter sido mais gentil em sua resposta, e compartilha seus próprios sentimentos de perda e arrependimento com aquele intenso afeto que algumas vezes ele era tão comoventemente capaz de atingir. Ele espera que eu saiba o quanto ele me adora, e que não consegue sequer encontrar palavras para expressar isso. "Mas a gente não é o que o outro precisa", diz ele. No entanto, ele tem certeza que eu algum dia vou encontar um grande amor na vida. Ele tem certeza disso. Afinal, ele diz, "beleza atrai beleza".
E isso, de fato, é uma coisa muito linda de se dizer. E é praticamente a melhor coisa que o amor da sua vida poderia dizer, quando não está dizendo: "VOLTE! NÃO VÁ EMBORA! EU VOU MUDAR!"
(...)
É David. Eu agora o perdi."


[Trecho de Comer Amar Rezar - Elizabeth Gilbert]

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Cada escolha é um dilema

. Nem tudo é como você quer
Nem tudo pode ser perfeito
Pode ser fácil se você Ver o mundo de outro jeito

Se o que é errado ficou certo As coisas são como elas são
Se a inteligência ficou cega De tanta informação

Se não faz sentido Discorde comigo Não é nada demais
São águas passadas Escolha outra estrada
E não olhe, Não olhe pra trás

Você quer encontrar a solução Sem ter nenhum problema
Insistir se preocupar demais Cada escolha é um dilema

Como sempre estou Mais do seu lado que você
Siga em frente em linha reta E não procure o que perder

[Não Olhe pra Trás - Capital Inicial
Composição: Dinho Ouro Preto/ Alvin L.]

domingo, 10 de outubro de 2010

Tão Jovens.

Às vezes, a gente lê e relê uma história pelos olhos de personagens diferentes.
A primeira vez que a li, ela tinha som.

"Vem cá, diz como está!
Faz tempo que agente não se vê , por isso resolvi ligar
Te esperei por todos esses anos
E agora não vou mais me enganar
Desde que eu te vi não paro de pensar
Se não for você não vale nem tentar
Então tá, vou te buscar
Agora a distancia não me importa mais, sei que vai rolar
Agora que nos encontramos, nunca mais eu vou te largar"

Vem, senta aqui ao meu lado e deixa o mundo girar, jamais seremos tão jovens.

[
Shakespeare]

sábado, 9 de outubro de 2010

Salto Agulha

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Sempre gostou das margens
Velhos atravessando avenidas
Pequenos enlamaçados
Extremos
Sempre abominou a mesmice
Sempre viveu de perguntas
E respostas inventadas
Se a invenção fazia sentido lá dentro
Ela seguia
Senão
Fugia.
E depois se guia
Sempre mudou de vestido
Quando ele tocava
Escondeu despertadores.
Conheceu galos
Perdeu várias lunetas
Ficou sem enxergar
Aguçou o paladar
Confusão
fusão
são
ão
o
De longe
Tudo diminui.

sábado, 2 de outubro de 2010

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Uma vez tomada a decisão de não dar ouvidos mesmo aos melhores contra-argumentos: sinal do caráter forte. Também uma ocasional vontade de se ser estúpido.

[Friedrich Nietzsche]

Arte por Taynara Ferrarezi

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

23 set - Minha pequena mais grande do Mundo.

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Acho maravilhoso perceber o quanto algumas vidas interagem com a nossa de um jeito tão mágico e bonito (...) Todo encontro que verdadeiramente nos toca é uma espécie de milagre num mundo de bilhões de seres humanos. Algumas pessoas a gente nem imaginava que existiam, mas, meu Deus, que agrado bom é para a alma descobrir que vivem. Que estão por aqui conosco. Pessoas que fazem muita diferença na nossa jornada, com as quais trocamos figurinhas raras para o nosso álbum.

[Ana Jácomo]

"Amo você, como um pedaço de mim."

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

(22 Setembro)

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A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...
Quando se vê, já é 6ª feira...
Quando se vê, passaram 60 anos...
Agora, é tarde demais para ser reprovado...
E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,
Eu nem olhava o relógio
Seguia sempre, sempre em frente...

E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das
horas.


[Mário Quintana]

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Eu quero viver

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Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Eu quero dizer
Agora o oposto do que eu disse antes
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Sobre o que é o amor
Sobre o que eu nem sei quem sou
Se hoje eu sou estrela
Amanhã já se apagou
Se hoje eu te odeio

Amanhã lhe tenho amor
Lhe tenho amor

Lhe tenho horror

Lhe faço amor
Eu sou um ator
É chato chegar
A um objetivo num instante

Eu quero viver
Nessa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Eu vou desdizer
Aquilo tudo que eu lhe disse antes
Eu prefiro ser

Essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo

[Trechos de Metamorfose Ambulante - Raul Seixas]

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

[Tesouro Branco]

. Aonde fores vai com todo o teu coração.

[Confúcio]

.Você sabe que sua participação vai fazer muita diferença. Não pela clareza de seu julgamento, por sua nobreza e justa capacidade de decidir, mas sim pela luz e calor que emanam da sua essência. Claro, é possível e provável que eles acabem encontrando o caminho sozinhos, mas seu afeto é toque vital, tudo significando, redimensionando o viver."

[Amanda Costa] via roda-gigante.blogspot.com

Tô aqui, esperando; esperando por você. Tá?! Vê se não demora, meu Tesouro Branco.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

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O amor não tem tempo para acontecer, só acontece uma vez, e não acaba, se você acha que ele já aconteceu e lamentas por ter acabado é por que ele nem começou.

[Ivan Teorilang]

Trilha sonora: Beirut - Elephant Gun.

Acredito, acredito e acredito.
Pronto.
Esqueço, esqueço e esqueço.
Pronto.
Mas as mémorias não dormem pra sempre.
Não, não, não dormem.
Pra sempre é noite demais.
Pronto.
Ponto.


terça-feira, 7 de setembro de 2010

Leveza que salta.

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de repente um riso tímido
presenteia meus lábios
o dia desperta o
mundo que guardo por dentro
uma chance muito pequena
- mas chances não se medem -
de ser feliz para sempre
mais uma vez

[Cáh Morandi]

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Roda, roda e roda.

- Por que roda tanto aqui, amigo?
Será que na China roda também?
E em Roma, roda?
- É claro, roda-gigante.
- Manhêê, roda em todo lugar.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

[Resposta Certa]

...
Toda mulher é experiente em testes. Atravessou a adolescência preenchendo questionários de revistas femininas, definindo pela pontuação se é sensual, se terá sucesso financeiro, se ele a ama.

Constantemente busca levantar coincidências e armar uma simbologia para encontros e esbarrões. Nada é fortuito, tudo tem uma mensagem escondida. Qualquer abordagem é uma revelação de infância.

O homem deve ficar atento quando se apaixona. Para desvendar qual é o exame decisivo da convivência. Cada mulher elabora o seu enigma, particular e intransferível. Pode ser um convite para visitar a família no interior ou quando apresenta seu bichinho de estimação.

É um questionário à paisana. Muitos marmanjos são descartados e não compreendem o motivo. O pé-na-bunda foi uma avaliação secreta em que ele deu a solução errada. É praticamente impossível detectar o momento. Ela se finge de distraída:

- O que acha de The Cure?

Você deduz que é uma pergunta à toa entre milhões que serão feitas ao longo do relacionamento. Confessa a verdade, decidido a impor sua personalidade:

- Foi uma tolice adolescente.

Mas não é uma pergunta, é a pergunta. A única que importa. A decisiva. Ela parte do princípio que nunca vai se envolver - sob hipótese alguma - com um cara que não curte The Cure. Robert Smith continua sendo seu ídolo. Não adianta demovê-la da ideia. Na mulher, qualquer ideia se transforma rapidamente em crença.

O batismo de fogo muda conforme as obsessões da moça. Cuidado com o que diz ao tomar sopa de beterraba num restaurante polonês, cuidado com o que diz na saída de um filme sueco. Esteja preparado, um vacilo e ouvirá o som gelado da guilhotina: zaz! (o número do seu telefone desaparecerá do celular dela)

Antes de ser minha namorada, Cínthya me convidou a correr e participar de seu habitual trajeto na Usina do Gasômetro. Fez sombra na cabeça o zepelim da gozação, aquilo soava como brincadeira. Não combinava com minhas características no Orkut: sedentário, fumante, escritor e adepto incondicional do LER. Fiquei tentado a rosnar um "boa sorte"; me reprimi e aceitei, com um sim engasgado, um sim arrependido. Não tinha noção de como completaria o percurso. Afinal, eram oito quilômetros e não desfrutava de um mísero calção, muito menos de fôlego.

Enfrentei o desafio disposto a enfartar. Se é para morrer que seja por ela.

Não senti as pernas por dois dias. Ainda menti que queria mais: que tal ir até Restinga e voltar? Cínthya terminou o passeio impressionada com a performance. E com meu contentamento silencioso - não falava, bufava, concordando com a cabeça, preocupado em como respirar no próprio corpo.

Conversando com seu irmão Gustavo, descobri seu costume em submeter os pretendentes a uma corrida: "É seu teste para o namoro!".

A enxaqueca apareceu quando esclareceu que ela somente iria casar com quem completasse uma maratona ao seu lado. A pergunta dela vai durar 42 quilômetros.

[Crônica: RESPOSTA CERTA, Jornal Zero Hora - FABRÍCIO CARPINEJAR]

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

"Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão."

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E o médico perguntou: o que sentes?
Sinto lonjuras, doutor.
Sofro de distâncias.

[Bonsais Atômicos, Denison Mendes]

domingo, 29 de agosto de 2010

o abraço é a dor do outro

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A minha dor eu sei resolver. Ainda que seja a custo alto, sei resolver. Pode ser com um calmante, um trabalho físico, um desabafo. Pode ser mexendo na horta, organizando as roupas no armário, limpando a casa, xingando Deus; eu sei resolver. Ainda que demore, resolvo.
O que não sei resolver é a dor do outro. Fico mudo, meu braço sobra, minha mão falta, minha boca treme algum vento sem força.
A dor do outro não se comunica. Não dá nem tira emprego.
A dor do outro me isola. Tento uma brecha para falar, mas sinto-me intruso, incômodo, solteiro. Como uma casa em reforma.
Toda dor só é compreensível no idioma da dor. Quem está de fora não entende, não tem razão, não alcança sentido. A dor não busca conselhos; a dor busca a pele para colocar por cima, busca cicatrizar a ferrugem e a maresia.
A dor do outro é pedalar com a respiração. Ela me desfalca, me devassa, me faz duvidar de que eu podia ter ouvido.
A dor do outro é a minha dor mais pessoal, porque é indiferente à minha própria dor.
A dor do outro é uma parada de ônibus sem ônibus por vir. Uma parada de ônibus para se sentar e não ir.
A dor do outro fica no lugar da dor, não suporta um passo além do círculo de sua lembrança fixa. A dor do outro tem a altura de um grito que não é dado para não desperdiçar a dor.
A dor do outro não ri, porque, séria, chega mais rápido ao seu fim.
A dor do outro não se empresta, é dor de osso, dor que não se enxerga de dia e nem de noite.
(...)
A minha dor eu resolvo. A dor do outro não sei aonde colocar, onde me colocar. Faço como minha avó Elisa. Quando alguém recusava um abraço, ela pedia para devolvê-lo.
Devolver o abraço é a dor do outro.

[Fabrício Carpinejar -
Pássaros comem na mão, O Amor Esquece de Começar]

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Aponta pra fé e rema.

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Aponta pra fé e rema

É, pode ser que a maré não vire

Só eu sei
Nos mares por onde andei

E agora o amanhã, cadê?

[Dois Barcos - Los Hermanos, Composição: Marcelo Camelo]
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quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Corações Vermelhos

...
Viver é colorido.
Colorido demais.
As cores saltam.
Vibram de imediato.
Brilham.
Depois, tornam-se ténues.
Foscas.
E o salto vira passo.
Que vira rastejo.
Que vira pecinhas de dominó.
Às vezes, a sequência de cores se inverte.
Ou se misturam na sequência.
Não havendo ausência de brilho em nenhuma cor.
Ou debilidade de cores durante todo o percursso.
Escolhas.
Ou não.
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A mistura do brilho com o fosco pinta corações.
Corações vermelhos.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

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"(...) eu não tive tempo de dizer que quando a gente precisa que alguém fique a gente constrói qualquer coisa, até um castelo."

(via Twitter, @caiofabreu)

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Come Back: Ela não veio, eu inventei alguma coisa sobre a ausência dela.

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Confesso, que estava esperando a bendita inspiração pra eu postar de novo.
Confesso também que estava morrendo de saudades daqui. Vontade de encontrar aquele amigo, sabe?!
Tenho só avistado de longe minhas lembranças, meus olhares, minhas novidades; mas faz um tempo que não tomo um chá ou fico jogando conversa fora com eles todos. E isso faz falta. Por isso, sem muitas ferramentas, resolvi voltar a consertar as coisas por aqui...

E só palavras dele pra me ajudarem, claro; como não?!: "(...) E, de qualquer forma, às cegas, às tontas, tenho feito o que acredito, do jeito talvez torto que sei fazer.”

Ganhei um brinquedo novo: Mando Tweets e 'Retweeto' . (rs.!)

sábado, 31 de julho de 2010

Sempre, pra você: "Toda a minha saudade, e o meu amor de sempre."

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Hoje foi um daqueles dias.
A presença da sua ausência teimou em sentar do meu lado.
Pior, quando eu levantava, ela corria na frente.
Quando eu comia, ela beliscava.
Quando eu durmia, ela sonhava.
Quando eu ria, ela me olhava.
Ela só não era você.
Queria que ela fosse.
Vou tentar vê-la assim.
Quem sabe esse não é o truque.
Ela desaparece.
E aparece você.
Mágica.
Que Saudade.
(...)
mas quem cantava chorou ao ver o seu amigo partir,
mas quem ficou, no pensamento voou,
com seu canto que o outro lembrou
E quem voou no pensamento ficou,
com a lembrança que o outro cantou.
Amigo é coisa para se guardar
No lado esquerdo do peito,
mesmo que o tempo e a distância, digam não,
mesmo esquecendo a canção.
O que importa é ouvir a voz que vem do coração.
Pois, seja o que vier,
venha o que vier
Qualquer dia amigo eu volto a te encontrar
Qualquer dia amigo, a gente vai se encontrar.

[Milton Nascimento - Canção Da América]

sexta-feira, 30 de julho de 2010

(...) ter a coragem de já ter.

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Esperança para mim era adiamento. Eu nunca havia deixado minha alma livre, e me havia organizado depressa em pessoa porque é arriscado demais perder-se a forma. Mas vejo agora o que na verdade me acontecia: eu tinha tão pouca fé que havia inventado apenas o futuro, eu acreditava tão pouco no que existe que adiava a atualidade para uma promessa e para um futuro. (...) a esperança não existe porque ela não é mais um futuro adiado, é hoje. Porque o Deus não promete. Ele é muito maior que isso: Ele é, e nunca pára de ser. Somos nós que não agüentamos esta luz sempre atual, e então a prometemos para depois, somente para não senti-la hoje mesmo e já. O presente é a face hoje do Deus. O horror é que sabemos que é em vida mesmo que vemos Deus. É com os olhos abertos mesmo que vemos Deus. E se adio a face da realidade para depois de minha morte - é por astúcia, porque prefiro estar morta na hora de vê-Lo e assim penso que não O verei realmente, assim como só tenho coragem de verdadeiramente sonhar quando estou dormindo. (...)É medo. Pois prescindir da esperança significa que eu tenho que passar a viver, e não apenas a me prometer vida. E este é o maior susto que eu posso ter. Antes eu esperava. Mas o Deus é hoje: seu reino já começou. (...)E eis que eu estava sabendo que a promessa divina de vida já está se cumprindo, e que sempre se cumpriu. Anteriormente, só de vez em quando, eu era lembrada, numa visão instantânea e logo afastada, de que a promessa não é somente para o futuro, é ontem e é permanentemente hoje: mas isso me era chocante. Eu preferia continuar pedindo, sem ter a coragem de já ter.

[Fragmentos de Clarice Lispector]

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Não sente-se não.

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Quando tinha 14 anos, esperava ter uma namorada algum dia. Quando tinha 16 anos, tive uma namorada, mas não tinha paixão. Então percebi que precisava de uma mulher apaixonada, com vontade de viver. Na faculdade saí com uma mulher apaixonada, mas era emocional demais. Tudo era terrível, era a rainha dos problemas, chorava o tempo todo e ameaçava suicidar-se. Então percebi que precisava de uma mulher estável. Quando tinha 25 encontrei uma mulher bem estável, mas chata. Era totalmente previsível e nada a excitava. A vida tornou-se tão monótona, que decidi que precisava de uma mulher mais excitante. Aos 28 encontrei uma mulher excitante, mas não consegui acompanhá-la. Ia de um lado para o outro sem se deter em lugar nenhum. Fazia coisas impetuosas, que me fez sentir tão miserável como feliz. No começo foi divertido e eletrizante, mas sem futuro. Então decidi buscar uma mulher com alguma ambição. Quando cheguei nos 31, encontrei uma mulher inteligente, ambiciosa e com os pés no chão. Decidi casar-me com ela. Era tão ambiciosa que pediu o divórcio e ficou com tudo o que eu tinha. Hoje, com 40 anos, gosto de mulheres com bunda grande. E só. Nada como a simplicidade.

[Luis Fernando Veríssimo]

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- Poderia me trazer uma dose, por favor?
- O que vai beber?
- Simplicidade, quero muita simplicidade.
- Aguarde um tempo. Sente-se, relaxe. Volto já, já.
- Demorará muito?
- Quer saber, não sente-se não. Vá dar uma volta. Dance. Converse. Ria.
- Demorará muito?
(Música ao fundo, só.)

Então, eu fui viver. Estou esperando

quinta-feira, 22 de julho de 2010

In.

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A cada momento há a possibilidade de ser total. Seja o que for que esteja fazendo, fique tão completamente absorto, de modo que a mente não pense nada, esteja simplesmente ali, seja apenas uma presença. E mais e mais totalidade virá para você e o sabor da totalidade o tornará cada vez mais e mais capaz de ser total. Procure perceber quando você não está sendo total. Esses são os momentos que precisarão ir sendo abandonados pouco a pouco. Quando você não é total... sempre que você estiver na cabeça - pensando, refletindo, fazendo cálculos, sendo astuto, achando soluções engenhosas -, você não é total. Pouco a pouco, vá se descartando desses momentos. Trata-se apenas de um velho hábito. Hábitos são difíceis de se deixar. Mas eles morrem certamente - se a pessoa persiste, eles morrem.

[Osho - Take it Easy]

domingo, 18 de julho de 2010

" (...) Ser feliz não dói."

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Eis que começo a voltar. Não de uma galáxia distante, de outro planeta, sequer de uma cidade ou um parque. De mim, volto.

[Caio F.]
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Naquele dia fazia um azul tão límpido, meu Deus, que eu me sentia perdoado pra sempre não sei de quê.

[Mário Quintana]

sábado, 17 de julho de 2010

[Tempos de Paz]

(...)
- Você tem dez minutos pra me fazer chorar.

- Isso não está certo, o Sr. tinha que me fazer chorar com as suas lembranças.
- Mas eu ganhei a aposta, o Sr. chorou.
- Seu teatro que me fez chorar. Foi a merda do seu teatro que me fez chorar.
- É foi. Foi teatro.
- E o que, que o Sr. acha que provou pra mim?
- Para o Sr. não provei nada. Provei para mim mesmo. Olha, eu sei que o Brasil precisa de braços para a agricultura; mas eu sou ator. Esta é a minha profissão. Eu não sei para que serve teatro no mundo depois desta guerra. Só sei que eu tenho que continuar a fazer o que eu sei fazer. Um dia alguém vai saber para que serve, se serve. Para mim, basta fazer. Fazer teatro. É como a receita de mingau do professor "Cracovic", alguém tem que saber como se faz este mingau.
- Some da minha frente, o Sr., o teatro e o Mingau.
(...)

[Trechos do filme nacional: Tempos de Paz]

sexta-feira, 16 de julho de 2010

" (...) e minhas vontades são bipolares demais."

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Encontrei esse trabalho hoje. Visualmente engraçado e com um conteúdo curioso, é genial.

terça-feira, 13 de julho de 2010

"(...) A tão sonhada paz é você que produz e espalha por aí."

."O quê você tem diante dos seus olhos merece um SORRISO? Então não pense duas vezes…"
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domingo, 11 de julho de 2010

Catch the Wind.

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Sabe, para mim a vida é um punhado de lantejoulas e purpurina que o vento sopra. Daqui a pouco tudo vai ser passado mesmo - deixa o vento soprar, let it be, fique pelo menos com o gostinho de ter brilhado um pouco...

[Caio Fernando de Abreu]

sábado, 10 de julho de 2010

Sobre o Tempo.

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Ele sentia que a conhecia.
O coração dizia.
Os olhos não enxergavam.
Então, a tal aparência não tinha mais valor.
Viver, apesar de tudo; era complicadamente simples demais.
Como nunca é quando se corre bem.

(A arte de envelhecer sempre me comoveu, me fascinou.
Em especial por esses dias.)

sábado, 3 de julho de 2010

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Devia ser sábado, passava da meia-noite.
Ele sorriu para mim. E perguntou:
-Você vai para a Liberdade?
-Não, eu vou para o Paraíso. Ele sentou-se ao meu lado. E disse.
-Então eu vou com você.

[Caio F. Abreu - Onde andará Dulce Veiga?]

domingo, 27 de junho de 2010

Sempre, sempre pra você.

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Era ainda jovem demais para saber que a memória do coração elimina as más lembranças e enaltece as boas e que graças a este artifício conseguimos suportar o passado.

[Gabriel García Márquez - El amor en los tiempos del cólera]
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A morte é apenas uma travessia do mundo, tal como os amigos que atravessam o mar e permanecem vivos uns nos outros. Porque sentem necessidade de estar presentes, para amar e viver o que é onipresente. Nesse espelho divino vêem-se face a face; e sua conversa é livre e pura. Este é o consolo dos amigos e embora se diga que morrem, sua amizade e convívio estão, no melhor sentido, sempre presentes, porque são imortais.

[William Penn]

quinta-feira, 24 de junho de 2010

[Noutro Lugar]

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Ela de tanto se enfrentar, e se encarar e se enfrentar; finalmente saboreou o café da tarde na sua própria casa. O silêncio já não grita mais tão alto. Falamos um tempo sobre ele. Ela me explicou sobre essa mania besta que ele tem de fazer tanto barulho, de incomodar tanto às vezes. Juro que depois da explicação comecei a admirá-lo. Ela me narrou como a gritaria estridente começava. Sempre na hora do café. Ao tocar na xícara. Desistia. Os gritos começavam. Saia de casa. Ia tomar café noutro lugar. E então, esses dias fez um café novo. Tomou quente e o volume dos gritos caiu. A bebida, nas outras vezes, sempre estava fria. Ele acredita que café gelado faz mal, por isso gritava. Ele é tão intenso que não fala, grita. Quer o bem. Há gritos ainda. Ela está desconfiada que é pela falta de pão para acompanhar o café. Ela Vai fazer o teste, tomar café com pão. Dai, vai notar o volume dos gritos. Mas a verdade é que os gritos sempre existirão. Só resta a ela descobrir as causas para diminuir cada vez mais a intensidade. Sem mandá-lo embora. Entende agora o porquê gostei dele?! Gosto dela.
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[N. Ferrarezi]

quarta-feira, 2 de junho de 2010

[Viva La Vida]

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E quando eu estiver nua do tempo
e dos meus compromissos alheios,
da hora marcada para levantar,
dormir, jantar e tomar café,
o dia que eu não me preocupar
com a casa desarrumada,
perder uma hora no aeroporto,
sair sem pressa de voltar,
eu sei que será tarde...
tarde demais para o amor chegar.

O tempo todo eu controlei o tempo,
e acabei por fazer o amor se atrasar.

[Cáh Morandi]

(Linda A arte de Cáh Morandi.)

terça-feira, 1 de junho de 2010

"Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho."

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(...)
Quem olha um espelho, quem consegue vê-lo sem se ver, quem entende que a sua profundidade consiste em ele ser vazio, quem caminha para dentro do seu espaço transparente sem deixar nele o vestígio da própria imagem - esse alguém percebeu o seu mistério de coisa.


[Clarice Lispector]

sábado, 29 de maio de 2010

[El Monstro]

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Uma cena que pulou na minha frente:

Haviam 11 televisões expostas (tive o cuidado de contar).

O caos, a preocupação, o medo, a dor, a raiva, a confusão, a imagem de um dia ruim; tudo estava presente no canal exibido nas 10 televisões. As percentagens atiravam na 'realidade' da grande maioria das Tvs. Mas, o alvo dos faróis dele não eram elas. Apertou o off, se é que viu o controle.

Ah..., a televisão restante: Um desenho animado. Daqueles coloridos, inocentes; que fazem bem, sabe?!
O fez sorrir, sorrir bonito.
Só havia uma televisão pros olhos dele.
Só uma.

[N. Ferrarezi]

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Me valeu o Dia, depois de um presente especial.


"(...)Eu creio que quando Deus não lhe dá um milagre,
você é um milagre de Deus para a salvação de outra pessoa."
(ou para a sua própria, acredito.)

[Palavras de
Nick Vujicic]

terça-feira, 25 de maio de 2010

Como coisas pequenas nos afetam, tão a sério. Que Bobeira.! Que humano.

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Eu já me perguntei
Se o tempo poderá
Realizar meus sonhos e desejos
Será que eu já não sei por onde procurar
Ou todos os caminhos dão no mesmo
E o certo é que eu não sei o que virá
Só posso te pedir que nunca se leve tão a sério
Nunca se deixe levar
Que a vida é parte do mistério
É tanta coisa pra se desvendar

Por tudo que eu andei e o tanto que faltar
Não dá pra se prever nem o futuro
O escuro que se vê
Quem sabe pode iluminar os corações perdidos sobre o muro
E o certo que eu não sei o que virá
Só posso te pedir que nunca se leve tão a sério
Nunca se deixe levar
Que a vida
A nossa vida passa
E não há tempo pra desperdiçar.

[Lenine - Todos os Caminhos]
[Compositores: Lenine - Dudu Falcão ]

domingo, 23 de maio de 2010

[Só isso.]

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É preciso ter Fé naquele abraço.
É preciso ter Fé naquele espelho, espelho meu.
É preciso ter Fé nos pés.
É preciso ter Fé que nos dias finais do mês, os dias do início do mês já estão atrás das cortinas.
É preciso ter Fé no espetáculo.
É preciso ter Fé que depois do vermelho a cor azul sempre aperece.
É preciso ter Fé que nos dias cinzentos, o sol tirou um descanso.
Só isso.
É preciso ter Fé naquele beijo.
É preciso ter Fé que nos dias de olhos molhados, os lábios e os dentes sairam prum encontro.
Só isso.
É preciso ter Fé naquele olhar.
É preciso ter Fé no que te faz feliz.
É preciso ter Fé que depois da segunda - feira é a terça.
É preciso ter Fé como combustível pros olhos acenderem.

Na verdade, as pessoas tinham que começar a perguntar umas pras outras:
"Ei, você não tem Fé na cara?"

[N. Ferrarezi]

sábado, 22 de maio de 2010

[...flores de plástico não morrem]

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Olhei até ficar cansado de ver os meus olhos no espelho
Chorei por ter despedaçado as flores que estão no canteiro
Os punhos e os pulsos cortados
E o resto do meu corpo inteiro
Há flores cobrindo o telhado
Embaixo do meu travesseiro
Há flores por todos os lados
Há flores em tudo o que eu vejo
A dor vai curar essas lástimas
O soro tem gosto de lágrimas
As flores tem cheiro de morte
A dor vai fechar esses cortes
(...)
As flores de plástico não morrem

[Titãs - Flores]
Compositores: Charles Gavin, Tony Bellotto, Paulo Miklos e Sérgio Britto

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Que mania besta de querer ser diferente...

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Com o mundo nas costas
E a cidade nos pés
Pra que sofrer se nada é pra sempre?
Pra que correr
Se nunca me vejo de frente
Parei de pensar e comecei a sentir
Nada como um dia após dia
Uma noite, um mês
Por que se preocupar por tão pouco?
Por que chorar
Se amanhã tudo muda de novo?
(...)

[Capital Inicial - Olhos Vermelhos]
Compositores: Dinho Ouro Preto / Alvin L