sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Tomara.

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Te desejo uma fé enorme.
Em qualquer coisa, não importa o quê.
Desejo esperanças novinhas em folha, todos os dias.
Tomara que a gente não desista de ser quem é por nada nem ninguém deste mundo.
Que a gente reconheça o poder do outro sem esquecer do nosso.
Que as mentiras alheias não confundam as nossas verdades, mesmo que as mentiras e as verdades sejam impermanentes.
Que friagem nenhuma seja capaz de encabular o nosso calor mais bonito.
Que, mesmo quando estivermos doendo, não percamos de vista nem de sonho a ideia da alegria.
Tomara que apesar dos apesares todos, a gente continue tendo valentia suficiente para não abrir mão de se sentir feliz.
As coisas vão dar certo.
Vai ter amor, vai ter fé, vai ter paz – se não tiver, a gente inventa.
Te quero ver feliz, te quero ver sem melancolia nenhuma.
Certo, muitas ilusões dançaram.
Mas eu me recuso a descrer absolutamente de tudo, eu faço força para manter algumas esperanças acesas, como velas.
Que 2012 seja doce. Repito sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce que seja doce e assim por diante.
Que seja bom o que vier, pra você.

[Caio Fernando Abreu]
Texto adaptado para a ocasião.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Inspiração.

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Foto: João Batista 

No fundo o que realmente pesa na vida são as pessoas.
Elas são remédios.
São venenos.
Quando a gente se invenena, perdemos a fé e ganhamos um óculos escuro que gruda na cara da gente.
Mas, quando topamos com pessoas comprimidos.. se me permitem assim chamá-las.
Ah, é o que traduzimos como cura.
Mas, não se engane.
É uma cura lenta.
Vagarosa, mas caprichosa.
É uma cura diária que só nos damos conta lá na frente.
Aqui na frente.
A gente se sente completa.
Eu.
Uma felicidade simples.
Batalhada.
Merecida.
Conquistada.
É estranho explicar ser feliz.
É muito mais fácil narrar quando se é infeliz.
Acredito que seja que estar feliz faz da vida lá fora um convite.
Saimos de casa.
Não temos tempo pra explicar.
É sentimento demais.
A felicidade é clara demais pra ficar escondida.
As palavras cegam-se com tamanha luz.
E nem sempre há uma conversa entre as duas.
Hoje houve.
Hoje, os comprimidos, fizeram efeito.
Hoje ela voltou.
E a porta estava aberta.
O abraço também.
 Até mais. Até Breve. A gente se vê.
Claro que nos veremos.

Com carinho,

Nayara Ferrarezi.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Justo?

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De que adianta fechar uma porta mas continuar olhando para ela fechada? Antes pular a janela.

[Talita Prates]

Justo, Justo, Justo... Justo!

domingo, 4 de dezembro de 2011

Domingo

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Vazio agudo
Ando meio
Cheio de tudo

[Paulo Leminski]

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Some time.

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Às vezes a prudência pode ser covardia
O silêncio, culpa
O mau, bom
O bem, mal
A solidão, castigo

Nem sempre braços entrelaçados é um abraço
Bocas juntas, um beijo
O banho molhado
Sol brilhando é dia
E Lua é noite

Muitas multidões são mudas
Muitos dias escuros
E as noites claras
Os erros acertos
E acertos errados

O riso pode ser triste
A felicidade presente
A lágrima alegre
O amor fatal
E a dor imaginária

[Adriel Gennaro]

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Quer fazer Deus rir?
Então conte seus planos a Ele.

[Woody Allen]
Quando a inspiração pede demissão, saber que alguém lê o que você escreve ou costumava escrever... Faz ela olhar pra trás, afinal é 'bom olhar pra trás e admirar a vida que soubemos fazer'. Ela não volta, mas exita em partir. 

terça-feira, 27 de setembro de 2011

(Projeto)

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Pessoas com vidas interessantes não tem fricote. Elas trocam de cidade. Investem em projetos sem garantia. Interessam-se por gente que é o oposto delas. Pedem demissão sem ter outro emprego em vista. Aceitam um convite para fazer o que nunca fizeram. Estão dispostas a mudar de cor preferida, de prato predileto. Começam do zero inúmeras vezes. Não se assustam com a passagem do tempo. Sobem no palco, tosam o cabelo, fazem loucuras por amor, compram passagens só de ida.

[Martha Medeiros]

Lendo o blog roda-gigante.blogspot.com adorei o texto da Martha. Quando a gente gosta de alguma coisa que lê, ou nos identificamos ou é algo que queríamos viver. Definitivamente a minha vida não anda se enquadrando nessa descrição. Embora, seria muito mais fácil se ela seguisse essa linha de raciocínio. Muito mais fácil.
Mas.
Quanto medo.
Quanta lembrança.
Quanta cobrança.
Quantas cores e sorrisos que não saem da cabeça.
Que não saem.
Quanto medo.
Quanta teimosia.
Quanta burrice?

domingo, 11 de setembro de 2011

domingo, 28 de agosto de 2011

Os 80 me encanta.

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Peça a Deus para que aconteça o que for melhor para você, porque Deus sempre sabe o que é melhor para nós; a gente, não. Tenho 80 anos e estou querendo meu contrato por mais 20. Porque até os 100 eu vou. Devo ir. Talvez eu vá.

[Mix de Ana Jácomo com Chico Anysio]

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Sobre Verdades verdadeiras!

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Pode me julgar pela roupa, mas me condenar mesmo que seja pela nudez.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

É...

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Via Facebook Paulo Ferrarezi

domingo, 7 de agosto de 2011

Baseado em fatos reais...

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(...) Poesia serve exatamente para a mesma coisa que serve uma vaca no meio da calçada de uma agitada metrópole. Para alterar o curso do seu andar, para interromper um hábito, para evitar repetições, para provocar um estranhamento, para alegrar o seu dia, para fazê-lo pensar, para resgatá-lo do inferno que é viver todo santo dia sem nenhum assombro, sem nenhum encantamento.

[Martha Medeiros]

domingo, 24 de julho de 2011

Sobre Entrevistas.

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Atualmente tenho uma lista de filmes para entrevistar.
A cada dia converso com um deles.
Há conversas de todos os tipos.
Alguns me provocam pressa.
Pressa para acabar a entrevista logo.
Ou pressa para fazer uma nova pergunta e descobrir mais sobre eles.
Há ainda aqueles que me cativam de tal maneira que rio de tanto chorar chorando de tanto rir. Passamos horas juntos.
E assim, faz-se uma amizade... daquelas que a gente não esquece.

Um filme chamado "In a Better World" me fez sentir daqui a delicadeza dele. Me lembro de um trecho da nossa conversa quando o pedi para falar sobre a morte.

"Parece, às vezes, que há um véu entre você e a morte.
Mas esse véu desaparece quando você perde alguém que ama ou alguém próximo...
E você vê claramente a morte por um segundo.
Mas, depois o véu reaparece, e você continua vivendo.
Então as coisas ficarão bem de novo."

domingo, 17 de julho de 2011

verdade, verdade... verdade.

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Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você.

[Friedrich Nietzsche]

quinta-feira, 7 de julho de 2011

"Queria tanto que alguém me amasse por alguma coisa que eu escrevi."

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Só com o tempo, meu bem. Só o tempo.

Só o tempo é capaz de fazer aquela dor, que agora rasga o seu coração, diminuir, eu disse diminuir e não acabar, que fique bem claro. Só ele pode fazer com que aquele nó constante na sua garganta apareça apenas as vezes. A saudade é um problema, pois ela só aumenta com o tempo, mas é o tempo também que a deixa, pelo menos, suportável. Só o tempo, meu bem.

[Taynara Ferrarezi]

via http://isendstonight.tumblr.com/

quarta-feira, 6 de julho de 2011

O Novo dói!

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Se me perguntarem como estou, eis a resposta: Estou indo. Sem muita bagagem. Pesos desnecessários causam sempre dores desnecessárias. Esvaziei a mala, olhei no fundo dela, limpei, e estou indo… preenchê-la com coisas novas. Sensações novas, situações novas, pessoas novas. Tudo novo.
- Então não o ama mais?
- Amo. Só guardei isso num cofre.
E tranquei.
E esqueci a senha.
Não porque quis.
Foi preciso.


[Mistura de Trechos de Caio Fernando Abreu]

terça-feira, 5 de julho de 2011

Medo de Altura.

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Como é bom criar uma expectativa. Parece inevitável. Basta um sinal e lá vamos nós nos apegar aquela esperançazinha por menor que seja. Fazer planos com algo concreto é coisa para os medrosos, os atrevidos criam histórias com aquilo que não existe mesmo. Somos conduzidos pela nossa vontade e mais do que disposição é preciso muita coragem pra abraçar nossas loucuras. Não importa se o amor não vingou, se o emprego não rolou, se ficamos na vontade. Apostamos naquilo e ponto, mesmo que isso implique em uns tombinhos de vez em quando. Somos escravos dos nossos sonhos e por eles topamos qualquer desafio, corremos todos os riscos, inclusive o da frustração. Criamos expectativa porque acreditar é delicioso, e por mais que o chão seja um lugar mais seguro, nada como balançar os pezinhos láááá no alto. E quer saber... porque duvidar? Vai que um dia aquele plano decola mesmo. Aí não vai ser você o primeiro a atrapalhar por medo de altura, vai?!?

[Fernanda Gaona]

via deliriosesuspiros.blogspot.com

domingo, 3 de julho de 2011

Tua Juba

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Fiquei invadida por sentimentos quando comecei a dar atenção a essa letra. Ela me inundou de sensações e deu até vontade de tomar um sol pra secar. Pra secar a nostalgia. Pra aquecer ainda mais as lembranças. As boas.
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Gosto muito de te ver, leãozinho
Caminhando sob o sol
Para desentristecer, leãozinho
O meu coração tão só
Basta eu encontrar você no caminho
Um filhote de leão raio da manhã;
Arrastando o meu olhar como um ímã...
O meu coração é o sol, pai de toda cor;
Quando ele lhe doura a pele ao léu...
Gosto de te ver ao sol, leãozinho
De te ver entrar no mar
Tua pele, tua luz, tua juba
Gosto de ficar ao sol, leãozinho
De molhar minha juba
De estar perto de você e entrar no mar

(O Leãozinho, Caetano Veloso) - http://migre.me/59VdL

segunda-feira, 13 de junho de 2011

12 de Junho

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Abri as portas de um blog novo http://penso--logo-escrevo.blogspot.com/ e precisei sair correndo com umas palavras que encontrei em cima da mesa. Agradeço a hospitalidade e a lembrança que trouxe aqui pra casa.

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Ele não sabe mais nada sobre mim. Não sabe que o aperto no meu peito diminuiu, que meu cabelo cresceu, que os meus olhos estão menos melancólicos, mas que tenho estado quieta, calada, concentrada numa vida prática e sem aquela necessidade toda de ser amada. Ele não sabe quantos livros pude ler em algumas semanas. Não sabe quais são meus novos assuntos nem os filmes favoritos. Ele não sabe que a cada dia eu penso menos nele, mas que conservo alguma curiosidade em saber se o seu coração está mais tranqüilo, se seu cabelo mudou, se o seu olhar continua inquieto. Ele nem imagina quanta coisa pude planejar durante esses dias todos e como me isolei pra tentar organizar todos os meus projetos. Ele não sabe quantos amigos desapareceram desde que me desvencilhei da minha vida social intensa. Que tenho sentido mais sono e ainda assim, dormido pouco. Que tenho escrito mais no meu caderno de sonhos. Que aqui faz tanto frio, ele não sabe por mim. Ele não sabe que eu nunca mais me atentei pra saudade. Que simplesmente deixei de pensar em tudo que me parecia instável. Que aprendi a não sobrecarregar meu coração, este órgão tão nobre. Ele não sabe que eu entendi que se eu resolver a minha dor, ainda assim, poderei criar através da dor alheia sem precisar sofrer junto pra conceber um poema de cura. Hoje foi um dia em que percebi quanta coisa em mim mudou e ele não sabe sobre nada disso. Ele não sabe que tenho estado tão só sem a devastadora sensação de me sentir sozinha. Ele não sabe que desde que não compartilhamos mais nada sobre nós, eu tive que me tornar minha melhor companhia: ele nem imagina que foi ele quem me ensinou esta alegria.

(Marla de Queiroz)

domingo, 29 de maio de 2011

... alvo da minha estima

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As coisas jogadas fora por motivo de traste
são alvo de minha estima.
Prediletamente latas.
Latas são pessoas léxicas pobres porém concretas.
Se você jogar na terra uma lata por motivo de
traste: mendigos, cozinheiras ou poetas podem pegar.
Por isso eu acho as latas mais suficientes, por
exemplo, do que as idéias.
Porque as idéias, sendo objetos concebidos pelo
espírito, elas são abstratas.
E, se você jogar um objeto abstrato na terra por
motivo de traste, ninguém quer pegar.
Por isso eu acho as latas mais suficientes.
A gente pega uma lata, enche de areia e sai
puxando pelas ruas moda um caminhão de areia.
E as idéias, por ser um objeto abstrato concebido
pelo espírito, não dá para encher de areia.
Por isso eu acho a lata mais suficiente.
Idéias são a luz do espírito - a gente sabe.
Há idéias luminosas - a gente sabe.
Mas elas inventaram a bomba atômica, a bomba
atômica, a bomba atôm...........................................
........................................................................ Agora
eu queria que os verbos iluminassem.
Que os trastes iluminassem.

[Manoel de Barros - Teologia do traste]

(Só dez por cento é Mentira)

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sábado, 9 de abril de 2011

In piração.

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Descobri que enxega-se melhor quando há falta de luz. O que há pra ser enxergado é mais nítido quando se está no escuro. Mas, ver demais causa dor nos olhos pelo excesso de luz da escuridão. Fato. Que doam os olhos, então. Que doam os dois.

domingo, 13 de março de 2011

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Quando se volta pra casa depois de um bom tempo, visita-se os vizinhos. Andei lendo vários Blogs que sigo e me deliciando com pensamentos que me alegram o dia. Que fazem falta, que fizeram falta. Encontrei uma sugestação (roda-gigante.blogspot.com) de um blog Português (naocompreendoasmulheres.blogspot.com) que gostei bastante. Resolvi passar a dica adiante. Resolvi mandar o riso pra frente.
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conversa 1698

(no café)

Ela (abrindo um saco) - Tens que ver isto!
Eu - Mostra. O que é que compraste desta vez?
Ela (fechando o saco) - Que boca foi essa?
Eu - Qual boca?
Ela - O que é que compraste desta vez?! O que é que tu queres dizer com isso?
Eu - Nada...
Ela - Estás a insinuar alguma coisa?
Eu - Não. É só porque nas duas últimas vezes que tomámos café tu mostraste-me qualquer coisa que tinhas acabado de comprar.
Ela - E depois?
Eu - E depois nada...
Ela - Ia mostrar-te um vestido novo que acabei de comprar nos saldos.
Eu - Ah! Então se não quiseres mostrar, não mostres. Não faz mal.
Ela - Às vezes pergunto-me porque é que sou tua amiga.
Eu - O que é foi agora?
Ela - Nem o meu vestido novo queres ver...
Eu - Tu é que não me queres mostrar.
Ela - Tu é que não queres ver.
Eu - Está bem. Mostra lá...
Ela - Agora não mostro.

[naocompreendoasmulheres.blogspot.com]
(Imagem via weheartit.com)

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

MEDO DA ETERNIDADE

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Jamais esquecerei o meu aflitivo e dramático contato com a eternidade.
Quando eu era muito pequena ainda não tinha provado chicles e mesmo em Recife falava-se pouco deles. Eu nem sabia bem de que espécie de bala ou bombom se tratava. Mesmo o dinheiro que eu tinha não dava para comprar: com o mesmo dinheiro eu lucraria não sei quantas balas.
Afinal minha irmã juntou dinheiro, comprou e ao sairmos de casa para a escola me explicou:
- Tome cuidado para não perder, porque essa bala nunca se acaba. Dura a vida inteira.
- Como não acaba? - Parei um instante na rua, perplexa.
- Não acaba nunca, e pronto.
- Eu estava boba: parecia-me ter sido transportada para o reino de histórias de príncipes e fadas. Peguei a pequena pastilha cor-de-rosa que representava o elixir do longo prazer. Examinei-a, quase não podia acreditar no milagre. Eu que, como outras crianças, às vezes tirava da boca uma bala ainda inteira, para chupar depois, só para fazê-la durar mais. E eis-me com aquela coisa cor-de-rosa, de aparência tão inocente, tornando possível o mundo impossível do qual já começara a me dar conta.
Com delicadeza, terminei afinal pondo o chicle na boca.
- E agora que é que eu faço? - perguntei para não errar no ritual que certamente deveira haver.
- Agora chupe o chicle para ir gostando do docinho dele, e só depois que passar o gosto você começa a mastigar. E aí mastiga a vida inteira. A menos que você perca, eu já perdi vários.
Perder a eternidade? Nunca.
O adocicado do chicle era bonzinho, não podia dizer que era ótimo. E, ainda perplexa, encaminhávamo-nos para a escola.
- Acabou o docinho. E agora?
- Agora mastigue para sempre.
Assustei-me, não saberia dizer por quê. Comecei a mastigar e em breve tinha na boca aquele puxa-puxa cinzento de borracha que não tinha gosto de nada. Mastigava, mastigava. Mas me sentia contrafeita. Na verdade eu não estava gostando do gosto. E a vantagem de ser bala eterna me enchia de uma espécie de medo, como se tem diante da idéia de eternidade ou de infinito.
Eu não quis confessar que não estava à altura da eternidade. Que só me dava aflição. Enquanto isso, eu mastigava obedientemente, sem parar.
Até que não suportei mais, e, atrevessando o portão da escola, dei um jeito de o chicle mastigado cair no chão de areia.
- Olha só o que me aconteceu! - disse eu em fingidos espanto e tristeza. - Agora não posso mastigar mais! A bala acabou!
- Já lhe disse - repetiu minha irmã - que ela não acaba nunca. Mas a gente às vezes perde. Até de noite a gente pode ir mastigando, mas para não engolir no sono a gente prega o chicle na cama. Não fique triste, um dia lhe dou outro, e esse você não perderá.
Eu estava envergonhada diante da bondade de minha irmã, envergonhada da mentira que pregara dizendo que o chicle caíra da boca por acaso.
Mas aliviada. Sem o peso da eternidade sobre mim.

Clarice Lispector - Aprendendo a viver
(Medo da eternidade, publicação: 6 de junho de 1970)

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

APRENDENDO A VIVER

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Thoreau era um filósofo americano que, entre coisas mais difíceis de se assimilar assim de repente, numa leitura de jornal, escreveu muitas coisas que talvez possam nos ajudar a viver de um modo mais inteligente, mais eficaz, mais bonito, menos angustiado.
Thoreau, por exemplo, desolava-se vendo seus vizinhos só pouparem e economizarem para um futuro longíquo. Que se pensasse um pouco no futuro, estava certo. Mas "melhore o tempo presente", exclamava. E acrescentava: "Estamos vivos agora". E comentava com desgosto: "Eles ficam juntanto tesouros que as traças e ferrugem irão roer e os ladrões roubar."
A mensagem é clara: não sacrifique o dia de hoje pelo de amanhã. Se você se sente infeliz, tome alguma providência agora, pois só na sequência dos agoras é que você existe.
Cada um de nós, aliás, fazendo um exame de consciência, lembra-se pelo menos de vários agoras que foram perdidos e que não voltarão mais. Há momentos na vida que o arrependimento de não ter tido ou não ter sido ou não ter resolvido ou não ter aceito, há momentos na vida em que o arrependimento é profundo como uma dor profunda.
Ele queria que fizéssemos agora o que queremos fazer. A vida inteira. Thoreau pregou e praticou a necessidade de fazer agora o que é mais importante para cada um de nós.
Por exemplo: para os jovens que queiram tornar-se escritores mas que contemporizavam - ou esperando uma inspiração ou se dizendo que não tinham tempo por causa de estudos e trabalhos - ele mandava ir agora para o quarto e começar a escrever.
Impacientava-se também com os que gastam tanto tempo estudando a vida que nunca chegam a viver. "É só quando esquecemos todos os nossos conhecimentos que começamos a saber."
E dizia esta coisa forte que nos enche de coragem: "Por que não deixamos penetrar a torrente, abrimos os portões e pomos em movimento toda a nossa engrenagem?". Só em pensar em seguir o seu conselho, sinto uma corrente de vitalidade percorrer-me o sangue. Agora, meus amigos, está sendo nesse próprio instante.
Thoreau achava que o medo era a causa da ruína dos nossos momentos presentes. E também as assustadoras opiniões que nós temos de nós mesmos. Dizia ele: "A opinião pública é uma tirana débil, se compara à opinião que temos de nós mesmos." É verdade: mesmo as pessoas cheias de segurança aparente julgam-se tão mal que no fundo estão alarmadas. E isso, na opinião de Thoreau, é grave, pois "o que um homem pensa a respeito de si mesmo determina, ou melhor, revela seu destino".
E, por mais inesperado que isso seja, ele dizia, tenha pena de si mesmo. Isso quando se levava uma vida de desespero passivo. Ele então aconselhava um pouco menos de dureza para com eles próprios. O medo faz, segundo ele, ter-se uma covardia desnecessária. Nesse caso devia-se abrandar o julgamento de si próprio. "Creio", escreveu, "que podemos confiar em nós mesmos muito mais do que confiamos. A natureza adapta-se tão bem à nossa fraqueza quanto à nossa força. "E repetia mil vezes aos que complicavam inultimente as coisas - e quem de nós não faz isso? -, como eu ia dizendo, ele quase gritava com quem complicava as coisas: simplifique! simplifique!
E um dia desses, abrindo um jornal e lendo um artigo de um nome de homem que infelizmente esqueci, deparei com citações de Bernanos que na verdade vêm complementar Thoreau, mesmo que aquele jamais tenha lido este.
Em determinado ponto do artigo (só recortei esse trecho) o autor fala que a marca de Bernanos estava na veemência com que nunca cessou de denunciar a impostura do "mundo livre". Além disso, procurava a salvaçao pelo risco - sem o qual a vida para ele não valia a pena - "e não pelo encolhimento senil, que não é só dos velhos, é de todos os que defendem as suas posições, inclusive ideológicas, inclusive religiosas" (o grifo é meu).
Para Bernanos, dizia o artigo, o maior pecado sobre a terra era a avareza, sob todas as formas. "A avareza e o tédio danam o mundo". "Dois ramos, enfim, do egoísmo", acrescenta o autor do artigo.
Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não vale a pena!

Feliz Ano Novo.

Clarice Lispector - Aprendendo a viver.
(Texto: Aprendendo a viver, publicação: 28 de dezembro de 1968)

sábado, 22 de janeiro de 2011

Só pra atravessar o mundo

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Eu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou. Faz tempo que quero ingressar nessa viagem, mas pra isso preciso saber se você vai também. Porque sozinha, não vou. Não tem como remar sozinha, eu ficaria girando em torno de mim mesma. Mas olha, eu só entro nesse barco se você prometer remar também! Eu abandono tudo, história, passado, cicatrizes. Mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a comer direito, vou todo dia pra academia. Mas você tem que prometer que vai remar também, com vontade! Eu começo a ler sobre política, futebol, ficção científica. Aprendo a pescar, se precisar. Mas você tem que remar também. Eu desisto fácil, você sabe. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só me pedir. Perco o medo de dirigir só pra atravessar o mundo pra te ver todo dia. Mas você tem que me prometer que vai remar junto comigo. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir. Mas a gente tem que afundar junto e descobrir que é possível nadar junto. Eu te ensino a nadar, juro! Mas você tem que me prometer que vai tentar, que vai se esforçar, que vai remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças! Você tem que me prometer que essa viagem não vai ser a toa, que vale a pena. Que por você vale a pena. Que por nós vale a pena.
Remar.
Re-amar.
Amar.

[Caio Fernando Abreu]

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

"A filosofia é um bom conselho."

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A sabedoria da vida não está em fazer aquilo que se gosta, mas gostar daquilo que se faz.

[Leonardo da Vinci]

[via Tumblr - Animação]

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Alma cristalizada.

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Tolo é quem confia sempre; tolo é quem continua confiando, contrariamente ao que recomendam todas as suas experiências vividas. Você o engana, e ele confia em você; você o engana de novo, e ele continua confiando; você o engana mais uma vez, e ele ainda confia em você. Então você dirá que ele é um tolo, que não aprende. A confiança dele é enorme; é uma confiança tão pura que ninguém consegue corrompê-la.

Seja um tolo no sentido taoísta, no sentido do Zen. Não tente criar uma muralha de conhecimentos em torno de você. Seja qual for a experiência que venha a você, deixe-a acontecer e depois siga em frente, descartando-se dela. Vá limpando sua mente o tempo todo; vá morrendo para o passado, de forma a permanecer no presente, no aqui-agora, como se tivesse acabado de nascer, como se fosse um bebê.

No começo isso será muito difícil. O mundo começará a tirar vantagem de você... deixe que o façam. São uns pobres companheiros. Ainda que trapaceiem com você, que o enganem e roubem, deixe acontecer, porque aquilo que é realmente seu não pode ser roubado, o que realmente lhe pertence ninguém pode tirar de você. E a cada vez que você não permitir que as circunstâncias o corrompam, a oportunidade se transformará em um efeito de integração dentro de você. A sua alma se tornará mais cristalizada.

[Osho]
[via http://www.roda-gigante.blogspot.com/ - texto e animação]

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Só Agora.

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Das habilidades que o mundo sabe,
essa ainda é a que faz melhor: Dar voltas.

[Jose Saramago]
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sábado, 8 de janeiro de 2011

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Janela aberta = medo.

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"Não sofra antecipadamente, menina" - sempre repito isso pra ela. Sempre. Sempre em vão. "O que tiver que vir, virá" - grito isso no ouvido dela todos os dias. Todos os dias, sem excessão. O grito se comporta como um sussuro no meio da multidão de pensamentos. Eu sempre a pergunto o porquê de tanto medo de abrir a janela, de tanto receio de olhar e enxergar paisagens novas. Ela é do tipo que gosta de acordar e olhar para quadros e fotos. Imóveis. Mas, não pensem que um dia ela vai admitir tudo isso. Não vai. Esqueci de contar que ela se veste de mulher-maravilha e se maqueia de soldado. Eu tinha me esquecido de falar esse detalhe sobre ela.