quinta-feira, 29 de abril de 2010

[Abre os Olhos e enxerga o Nada que se Leva]

ali

ali
se

se alice
ali se visse
quanto alice viu
e não disse

se ali
ali se dissesse
quanta palavra
veio e não desce

ali
bem ali
dentro da alice
só alice
com alice
ali se parece

[Paulo Leminski]

domingo, 25 de abril de 2010

estou contente outra vez, adeus, vou morar na praia. [Abreu + Borenstain]

(...)
Calma
Dê o tempo ao tempo, calma
alma
Põe cada coisa em seu lugar
(...)

[Maria Rita, Composição: Francisco Bosco / Fred Martins]

Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está aí, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada 'impulso vital'. Pois esse impulso ás vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo assim como 'estou contente outra vez'. (...)

[Caio F. de Abreu] *Ele é demais.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

"(...) A gente precisa é aprender a manha de saber se reinventar. De se tornar manhã novíssima depois de cada longa noite escura."


Ápos Dias e Dias sem aquele sol que te faz querer traduzir o mundo em palavras, coisas acumularam-se; preciso esvaziar pensamentos:

Você tem um olhar de quem estaria disposta a cometer loucuras? Tem que ter! Você precisa dele para ser realmente feliz.
[Martha Medeiros]

(É, há desatinos que nos deixam vivos de vez em quando.)

Não voltaria no tempo para consertar meus erros, não voltaria para a inocência que eu tinha - e tenho ainda. Terei saudades da ingenuidade que nunca perdi? Não tenho saudades nem de um minuto atrás. Tudo o que eu fui prossegue em mim.
[Martha Medeiros]

(Bom, meia verdade pra mim. Tenho saudade de segundos atrás. Mas, acredito que os segundos passados habitam em mim, quietos; às vezes, mas moram aqui sempre.)

Amamos quem divide com a gente um dia de trabalho. Amamos quem nos faz rir. Amamos quem dá ou aceita ajuda. Amamos quem sabe ser carinhoso. Existe amor em nós e é bom falar sobre ele. É energia que se multiplica e torna melhor o dia, o tempo, a vida.
[Cris Guerra]

Liberdade na vida é ter um amor para se prender.
[Fabrício Carpinejar]

(Minha nossa! Como é real. Mas não é uma realidade que se encontra em qualquer esquina, não é uma verdade que se pega apertando a mão de outra pessoa na rua, ela vem com o tempo; ou não, mas os olhos precisam estar abertos.)

sábado, 17 de abril de 2010

"Quem diria que viver ia dar nisso?"

Sabe quando mais uma ilusão salta de dentro da sacola e sai correndo?
Sabe quando mais uma verdade (inventada, me questiono; agora.)se transforma em fumaça? E vai embora com o tempo?
Sabe quando dentro da gente vem aquela vontade de enviar um requerimento com a solicitação " Quero descer"?
Sabe quando se torna chato ver tanta realidade?
Sabe quando o ladrão rouba o vizinho, mas ficamos sem durmir uma semana?
Sabe quando você queria pegar as rédeas dessa loucura toda e frear, mesmo sem ter certeza da maravilha que pode ser sentir o vento na cara?
Sabe quando te dá uma vontade de tomar um café, porque o mundo acabou faz tempo (como dizia Caio F.) ?
Pois é...

[Pra vocês, vocês duas.]

[N. Ferrarezi]

quarta-feira, 14 de abril de 2010

"Eu amo uma mulher chamada Alice."


- DOUTOR, ESTOU SENTINDO UMA RIMA TERRÍVEL.
- Onde é que dói?
- Às vezes, é bem aqui no peito. Às vezes, é uma pontada, aqui na cabeça.
- O que é que o senhor faz, quando dói muito?
- Quando eu não agüento mais, eu faço um poema.
- Um o quê?
- Um poema. É um espécie de mancha que dá bem no meio da página. Tem umas apavorantes. Mas também tem manchas lindas.
- E desde quando lhe acontecem esses poemas?
- Desde sempre. Desde quando, antes do ventre da minha mãe, eu fui pensado em alguma galáxia distante, por um planeta boiando na luz de um sol azul-amarelo-vermelho-verde-prata...
- Deixe-me ver sua língua.
- O senhor não leve a mal, mas é uma língua apenas portuguesa. Pouca gente no mundo já viu uma língua como essa.
- É, está feia sua língua. Mas não se incomode, que língua portuguesa ninguém presta atenção.- Não é só a língua, doutor. Às vezes, tenho visões.
- Visões?
- É, vejo círculos, quadrados, triângulos inscritos em hexágonos, e linhas, linhas, linhas...
- O senhor conhece matemática?
- Só de nome.
- É, é mais grave do que eu pensava.
- Vou morrer?
- Um dia vai. Mas antes vais ser pior. O senhor pode ficar famoso.
- Pra sempre?
- Não, quando é para sempre a gente chama glória. A fama passa.
- Ainda bem.
- Mas incomoda muito. Não tem horas em que o senhor sente que tem um estádio inteiro lhe aplaudindo de pé?
- Onde, doutor?
- Dentro da sua cabeça, é claro. Onde mais?
- Que alívio o senhor me contar isso. Pensei que estava ficando louco.
- Quem sabe? Quem sabe o que é loucura?
- Vá saber.
- Deixa eu completar os exames. Tem sentido muitos sintomas de concretismo gástrico ultimamente?
- Só quando eu vejo uma folha de letraset.
- Perfeito. Tem sentindo algum soneto?
- Só de manhã, quando eu vou dormir de estômago vazio.
- Impulsos marginais?
- Depois que fui editado pela Brasiliense, meus sintomas marginais desapareceram. Deviam ser conseqüência do abuso da solidão e do provincialismo paroquial.
- Nada de pornô, espero.
- Um filho-da-puta aqui. Um caralho ali. Porra. Cabaço. Gozar. Só essas coisinhas corriqueiras, que vovó não deixava dizer, mas estão no Aurélio.
- Entendo. Não admira que o senhor tenha tido tantos poemas recentemente. Mas vou receitar uma dieta que vai lhe deixar tão bom quanto qualquer subgerente de vendas.
- Antes disso, será que o senhor não me deixava cantar alguma coisa?
- Cantar? Mas eu não tenho nada aqui para o senhor cantar.
- Pode deixar que eu trouxe umas canções comigo.
- Cuidado. Cantar demais faz mal.
- Não se preocupe, doutor. Eu só vou cantar um pouquinho.
- Está bem. Pode começar.
- Desafinar um pouquinho, não ligue. É assim mesmo:

"Se houver céu depois da terra
e nessa estrela
a eterna primavera
pudera, tomara, que a vida quisera
que a gente se encontrara.
Proutra vida fica,
nosso amor mais louco,
fica tudo muito mais bonito,
fica a dita que faltou pro pouco,
se houver céu...
Se houver céu,
como nessa vida não há,
a gente se achou bichinha
a gente se encontrará,
a gente se encontrará..."

- Letra e música suas?
- Letra e música.
- I see. Deixa-me ver. O senhor tem algum vício?
- Eu amo uma mulher chamada Alice.
- Há muito tempo?
- A vida toda.
- O senhor é o caso mais grave de poesia que eu já vi até agora. Preciso consultar uns colegas.
- O que é que eu faço, doutor?
- Tome duas estrofes e me telefone amanhã cedo, sem falta.

[(Gozo Fabuloso - Sintomas) - Paulo Leminski]

O Cravo e a Rosa.

(...) Encoste-se na sua própria experiência e intuição, honre sua história de vida, seu currículo, se ele não for tão atraente, incremente-o. Use sua voz: marque entrevistas. Use sua simpatia: convença os outros. Use seus neurônios: pra todo o resto. E este coração acomodado aí no peito? Use-o, ora bolas.

[Martha Medeiros]

segunda-feira, 12 de abril de 2010

" (...) Há pessoas que nos devolvem."

.
Depois de inúmeros dias incompletos, de sorrisos pela metade, de lágrimas escuras, acessos repetitivos de revolta, de desejo insaciável de cuspir dor e gritar com o carro em movimento. Pela primeira vez (que eu me permiti), ao juntar milhões de pensamentos empoeirados e frescos, enxerguei algo novo, algo inventado; que seja! Minha alma está leve. Mas é uma leveza pesada, sofrida, batalhada e rejeitada. É uma leveza carregada de lembranças. É uma leveza acalentada por um amor maior; aquele que não coleciona egoístas na estante. Bom, hoje sinto essa súbita vontade de mostrar os dentes em frente ao espelho, pro mundo todo aqui dentro ver. Amanhã já é outra janela, a paisagem pode mudar. Uma casa e um carro com janela única é uma alternativa futura. Muito limitada. Melhor não. Eu me viro.

[N. Ferrarezi]

"Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar essa pessoa de nossos sonhos e abraçá-la."

sábado, 10 de abril de 2010

Clarice me entenderia...


"Vou te fazer uma confissão: estou um pouco assustada. É que não sei aonde me levará esta minha liberdade. Não é arbitrária nem libertina. Mas estou solta."

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Pra você: Minha Pequena Grande.

(...)
O que te posso dar
é mais que tudo o que perdi:
dou-te os meus ganhos.
(...)
[Lya Luft]

Clarice, Clarice


“Eu disse a uma amiga:
— A vida sempre superexigiu de mim.
Ela disse:
— Mas lembre-se de que você também superexige da vida.
Sim.”

quarta-feira, 7 de abril de 2010

"(...) acorde, pois há o perigo do coração estar livre!"

Tô relendo minha lida, minha alma, meus amores
Tô revendo minha vida, minha luta, meus valores
Refazendo minhas forças, minha fonte, meus favores
Tô regando minhas folhas, minhas faces, minhas flores
Tô limpando minha casa, minha cama, meu quartinho
Tô soprando minha brasa, minha brisa, meu anjinho
Tô bebendo minhas culpas, meu veneno, meu vinho
Escrevendo minhas cartas, meu começo, meu caminho
Estou podando meu jardim
Estou cuidando bem de mim

[Vander Lee - Meu Jardim]

[Última Descoberta: Chapeuzinho Vermelho Adora Os Lobos Maus e
a Bela Adormecida Dorme Fácil, Bem Fácil.]

quinta-feira, 1 de abril de 2010

"Faça Funcionar."


À raça dos desassossegados pertencemos todos, negros e brancos, ricos e pobres, jovens e velhos, desde que tenhamos como característica desta raça comum, a inquietação que nos torna insuportavelmente exigentes com a gente mesmo e a ambição de vencer não os jogos, mas o tempo, este adversário implacável.

Desassossegados do mundo correm atrás da felicidade possível, e uma vez alcançado seu quinhão, não sossegam: saem atrás da felicidade improvável, aquela que se promete constante, aquela que ninguém nunca viu, e por isso sua raridade.

Desassossegados amam com atropelo, cultivam fantasias irreais de amores sublimes, fartos e eternos, são sabidamente apressados, cheios de ânsias e desejos, amam muito mais do que necessitam e recebem menos amor do que planejavam.

Desassossegados pensam acordados e dormindo, pensam falando e escutando, pensam ao concordar e, quando discordam, pensam que pensam melhor, e pensam com clareza uns dias e com a mente turva em outros, e pensam tanto que pensam que descansam.
(...)
Desassossegados desconfiam de si mesmos, se acusam e se defendem, contradizem-se, são fáceis e difíceis, acatam e desrespeitam as leis e seus próprios conceitos, tumultuados e irresistíveis seres que latejam.

Desassossegados têm insônia e são gentis, lhes incomodam as verdades imutáveis, riem quando bebem, não enjoam, mas ficam tontos com tanta idéia solta, com tamanha esquizofrenia, não se acomodam em rede, leito, lamentam a falta que faz uma paz inconsciente. Desta raça somos todos, eu sou, só sossego quando me aceito.

[Martha Medeiros]